quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Melancolia no fim dos tempos

Lars Von Trier provoca. Em uma coletiva de lançamento de seu mais recente filme, Melancolia, em Cannes, o cineasta fez declarações polêmicas sobre o nazismo que movimentaram a imprensa e podem ter lhe custado a Palma de Ouro. Fato é que o cineasta dinamarquês expõe seus personagens, intérpretes e público a emoções intensas, sendo muito difícil sair impassível de uma sessão de seus filmes.


Melancolia é uma grande obra. A mera ideia de tratar um filme sobre o fim do mundo sem que esse seja o tema central, demonstra como o diretor é capaz de trazer novidade ao cinema. Sob o som da ópera Tristão e Isolda, do compositor Richard Wagner, Von Trier apresenta uma série de imagens que parecem fotografias em movimento, mas que se tratam de frames em slow-motion do que está prestes a acontecer com os personagens da história. É um prelúdio do fim do mundo.

O que se segue é uma visão taciturna do que são os últimos dias do planeta sob a ótica de duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst, vencedora da Palma de Ouro por sua interpretação) e Claire (Charlotte Gainsbourg, protagonista do polêmico filme anterior de Von Trier, Anticristo).

A película é dividida em duas partes. Na primeira, o casamento de Justine com Michael (Alexander Skarsgård, da série True Blood), organizado por Claire e o marido (Kiefer Sutherland, da série 24 Horas) é dissecado em cenas que mostram a brutalidade dos sentimentos da família. Não é uma festa clichê, com casais felizes e danças coreografadas, mas uma espiral de emoções no melhor estilo dos filmes do sueco Ingmar Bergman.

Justine é a expressão do título do filme. Melancólica e, aparentemente, desiludida com tudo o que está vivendo, em muitas cenas parece inerte diante de tudo o que ocorre. E algo grandioso está acontecendo, mesmo que o cineasta não se preocupe em dar destaque para este aspecto durante toda a primeira metade do filme. Um planeta gigantesco, chamado Melancolia, está em rota de colisão com a Terra. Não se sabe muito sobre o fato. Não há as clássicas cenas com explicações de cientistas. O que há são pequenos comentários entre os personagens enquanto tentam resolver seus problemas familiares. Aqui, vale destacar as cenas da festa com os pais das irmãs, vividos por John Hurt e Charlotte Rampling. Suas participações são pequenas, mas memoráveis.

Na segunda parte, focada em Claire, Justine está em depressão. A notícia de que o mundo pode acabar a consola, de sorte que as nuances da interpretação de Kirsten Dunst levam a crer que a personagem está confortável com essa situação. De uma figura frágil no início da história ela parece resignada e tranquila à medida que o apocalipse se aproxima. Já o comportamento de Claire se altera completamente. Responsável pela organização do casamento da irmã, ela tem uma imagem prática e objetiva no início do filme, com a proximidade do fim ela fica transtornada. Sua vida confortável, e estável é balançada pela notícia da aproximação do planeta Melancolia. 
Claire é uma forma de retratar um pensamento padrão e convencional diante de situações limite. Ela entra em pânico, e a interpretação de Gainsbourg retrata sua fragilidade emocional e modo de pensar convencional. 

O grande mérito do filme, além das belíssimas interpretações, é a forma como o diretor conduz a história. O fim do mundo é visto pelos olhos das irmãs. O pânico se restringe aos pavor de Claire com a situação. Não se tem a menor ideia do que está acontecendo no restante do planeta. Para Von Trier, a forma como as duas reagem à catástrofe é o fator relevante. Quanto mais se aproxima do final, tornam-se mais nítidos a calma de Justine e o desespero de Claire. 


Von Trier desnuda a fragilidade psicológica humana ao mesmo tempo que demonstra a força. Ao final, em uma cena de tirar o fôlego, com um som arrebatador, tudo termina. Tranquilidade passa pelos olhos de Justine, desespero e tristeza pelos de Claire. Não poderia ser um epílogo convencional. As imagens derradeiras não saem da mente. Definitivamente, o cinema e as declarações de Von Trier são feitos para provocar.

Confira o trailer:


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