quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O inesperado líder

O Campeonato Brasileiro de 2011 apresenta inusitadas surpresas. A primeira delas é o equilíbrio histórico que a competição traz na briga pelas primeiras colocações. Nunca antes na história do torneio, a distância em pontos do líder para o quarto colocado foi tão pequena. São 26 rodadas e temos pelo menos 4 equipes disputando o título e mais 8 na briga por uma vaga na Taça Libertadores da América.
A razão para esse acirramento pode ser a falta de uma grande potência superior. Tudo está muito equilibrado, os times estão muito parecidos. Não temos mais o São Paulo de alguns anos atrás. O Santos, atual campeão da Libertadores, que teoricamente teria o melhor elenco de jogadores do Brasil, demorou para entrar no campeonato e agora paga o preço. Isso abriu espaço para times emergentes que tiveram que atravessar ou ainda atravessam uma longa fase de reestruturação.
É ai que nos deparamos com a grande surpresa do brasileirão e de toda a temporada de 2011, que é o Clube de Regatas Vasco da Gama. O clube carioca enfrentou uma década sombria, permanecendo anos sob a gestão ditatorial e catastrófica do ex-presidente Eurico Miranda, que quando deixou o cargo de presidente do clube em 2008, a situação financeira do Vasco era caótica e quase irremediável. Eurico recebeu várias acusações de desvios de verbas, além de ter requisitado antecipação de receitas da televisão para as temporadas de 2009 e 2010. Isso é apenas um resumo da verdadeira bomba que Roberto Dinamite, maior ídolo da história do Vasco, se dispôs a assumir em meados de 2008, quando foi eleito presidente do clube. Não teve como evitar a queda para série B, em consequência do elenco precário que herdou. A partir de 2009, o clube começava um processo penoso de reformulação, e Dinamite tinha a ingrata tarefa de formar um time sem dinheiro.
Aos pouco, o Vasco foi recuperando a credibilidade e começou a honrar seus compromissos e manter a folha salarial de jogadores em dia. Além disso, com Roberto Dinamite, o clube passou a recuperar a simpatia alheia e destruir a imagem arrogante que Eurinco Miranda conseguiu arrastar para o clube na última década. É um processo semelhante a de um país que vive anos num regime ditatorial. O processo de readaptação a democracia requer um pouco de tempo. Esse novo Vasco já começa a adquirir resultados dentro de campo chegando a semifinais da Copa do Brasil em 2009 e 2010. Mas a grande recompensa do trabalho de Dinamite e do diretor executivo Rodrigo Caetano chegou no ano de 2011.
Depois de um início turbulento no campeonato carioca, o time ganha forma com a chegada de Ricardo Gomes e a reafirmação de jogadores rodados como Diego Souza e Juninho Pernambucano. Com isso, o clube conquista a Copa de Brasil e retorna a Libertadores depois de 10 anos e é o líder do Brasileiro, faltando 12 rodadas para seu final. É um fenômeno impressionante diante do contexto descrito acima. Um clube que a dois anos estava a beira do abismo pode igualar a marca do Cruzeiro, que é o único time a conquistar Brasileirão e Copa do Brasil no mesmo ano. E o Vasco ainda pode levar a Sul-Americana. Seria um prêmio e tanto para esse novo modelo de profissionalismo adotado pela equipe carioca. Mesmo que não tenha a melhor equipe do Brasil nominalmente, um bom trabalho e organização institucional também podem levar ao sucesso dentro de campo. Ainda tem muita bola para rolar nesse brasileiro, mas de toda maneira, o Vasco já superou as expectativas e qualquer posição que estiver no final da competição já é lucro para uma equipe que está acostumada a apenas brigar para não ser rebaixada.

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